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Betina Vargas C & T

Com vergonha de torcer pelo Brasil?

Eu tinha 8 anos quando o Brasil ganhou o tetracampeonato na Copa do Mundo de futebol. Naquele mesmo ano, uns meses antes, tínhamos sofrido a perda do nosso herói nacional número 1: Ayrton Senna. Deste segundo evento, eu lembro da dor de perder alguém que eu nem conhecia, lembro da minha irmã adolescente passar uma semana trancada no quarto e lembro do vazio que sentíamos todo domingo de fórmula 1. Do segundo evento, alguns meses depois, eu lembro de uma alegria inexplicável, de voltar a sentir orgulho de ser brasileira, e lembro de participar de uma carreata - juntamente com familiares, colegas e vizinhos - carregando a bandeira do Brasil.


Para quem passou por essa montanha russa de sentimentos e os dividiu com uma nação inteira, Copa do Mundo virou motivo de alegria, de festa, de exorcizar tudo aquilo que poderia estar dando errado em nossas vidas… Até o país passar por mais uma crise política e a gente ter quase vergonha de torcer pela seleção brasileira de futebol.


As críticas: os jogadores fazem pouco pelo que ganham e o futebol distrai a nação, pois nos esquecemos o quanto somos péssimos em todo o resto.

Bem, não é possível negar o quanto precisamos melhorar, mas acredite: os brasileiros ainda possuem qualidades e essas ficam ainda mais evidentes quando saímos do nosso país.


Se nos lembrarmos do próprio Senna, ha aí o exemplo de alguém que (apesar de ser de família rica) saiu de um país na época muito pobre, onde as oportunidades de fazer parte da nata de pilotos mundiais eram muito menores do que as de um Europeu. Não apenas isso, mas este brasileiro conseguia permanecer nas melhores equipes, portando características admiradas por muitos, mas sendo muito pouco diplomático. Entre os fãs, ele era o cara que perseverava e vencia, mesmo quando todas as condições estavam contra ele, ele era o cara que perdia posições pois parava para ajudar um colega, era o cara que dizia o que precisava ser dito, até para os chefões da F1. Dos chefes e colegas, ele ganhou admiração, pois apesar de peita-los, ele deixava o esporte mais bonito e trazia resultados.


Meus amigos, a resiliência nas adversidades, saber viver os bons momentos e a coragem em agir com o coração, não eram características apenas do nosso Senna: são características do povo brasileiro.


E não é apenas no esporte que o brasileiro pode ser excelente. Existem brasileiros renomados no mundo das artes, brasileiros fazendo parte de muitas pesquisas científicas de ponta, brasileiros liderando instituições internacionais, times de brasileiros fazendo parte das mais complexas discussões e avanços, em quase todos os campos profissionais.


Quando lidamos com trabalhadores brasileiros aqui no exterior, existem algumas características que chamam a atenção: são pessoas com muito mais flexibilidade, que possuem muito mais facilidade para acomodar situações especiais e são alguns dos melhores funcionários que uma empresa pode ter, pois entendem que sacrifícios são necessários e, quando recebem em troca pelo extra que dão, eles ficam felizes em oferecer este extra. Além disso, o brasileiro se dá muito melhor em situações sociais, como receber com um sorriso, puxar assunto e prestar atenção na pessoa que está na sua frente.


Ou seja, na população brasileira em geral, veremos muito mais Ayrton Sennas do que políticos corruptos e, ainda que tenhamos muitos pontos de melhoria (muitos mesmos), ainda temos razões para ter orgulho de ser brasileiro. Ainda que as vezes seja difícil: seja você um melhor vizinho, um melhor colega, e não culpe as más atitudes no fato de ser brasileiro.


Eu vou torcer pelo Brasil na Copa. Vou torcer para que joguem bonito, para que demonstrem grande alegria quando vencerem e para que deixem um legado de esperança para a parcela mais sofrida do nosso país. Se não jogarem bonito, provavelmente perderão e, aí, eu torço que o povo entenda que a vida continua e que existem muitas outras razões para se ter orgulho de ser brasileiro.


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Betina Vargas

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